Momento Poético - 13
(imagem do Google)
Da parede da cozinha
Do tempo
na semântica das paredes da cozinha
ficou a réstia imaculada
duma ausência de tempo
e do relógio recostado.
A poeira foi outra ausência
que se tornou capa do relógio
ao longo do tempo
que temperou as paredes
adormecidas na dança das horas
num afago
sem registos das memórias
que ali adormeceram.
Tempos houve
em que o tempo ali marcado
foi alvo de olhos apressados
em busca de tempos
perdidos e reencontrados.
Do fumo do fogão
da negrura das panelas
volatilizaram-se o aroma
e os sabores
que estranhamente
se entranharam
na dança dos tique-taques.
Na textura da parede
ficou agora a memória sombria
de um tique-taque
que marcou mil silêncios
lavrados na fadiga das panelas e tachos
entre vapores aleatórios
saídos do fogo e dos corpos
enleados nos aromas
que o próprio tempo saboreou.
Entrando na alma
das quatro paredes
pressinto o tempo
que goteja da ausência daquele relógio
que carinhosamente beijava
o quotidiano duma cozinha
que nunca respirou tempos mortos.
(batista_oliveira - 2016)